Em tempos de crise
econômica e redução na oferta de emprego, empreender pode ser uma alternativa
para assegurar uma renda. Nesse cenário, as microfranquias têm despontado como
um caminho para quem não dispõe de tanto capital para aplicar. A característica
desse modelo de negócio é exigir investimento inicial pequeno, de até R$ 80
mil. Números da Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostram um aumento do
interesse pelo sistema nos últimos anos.
De acordo com a ABF, em
2011 havia 336 redes classificadas como microfranquias no país. Em 2012, o
número passou a 368, uma alta de 9,5%. No ano de 2013, o total de
microfranquias atingiu 384, crescendo 4,3% e, por fim, em 2014, chegou a 433,
com crescimento de 12,8% ante o ano anterior. A entidade ainda não fechou os
dados de 2015. O diretor de Relacionamento e Mercado da ABF, Cláudio Tieghi,
diz que o segmento de franquias cresce em momentos de crise.
“Historicamente o
franchising se beneficia nesses momentos, no sentido de aumentar o fluxo de
pessoas interessadas em empreender, ter o próprio negócio”, afirma Tieghi.
Segundo ele, o fenômeno das microfranquias, intensificado nos últimos dez anos,
ganha apelo especial com a queda do emprego. De acordo com o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, em
2015 o Brasil fechou 1,54 milhão de vagas formais.
“A microfranquia é uma
opção para pessoas com perfil técnico ou de gerente. Ela se equipara a uma
oportunidade de substituição do emprego. Em vez de estar em uma empresa
trabalhando, [o franqueado] pode desempenhar essas funções em casa. Ele pode
também projetar e sair da realidade de microfranquia. Pode ter várias unidades
no país ou migrar para uma franquia tradicional”, afirma.
No entanto, segundo ele,
dedicação e disposição para trabalhar são quesitos fundamentais para quem
deseja se aventurar com o modelo. “O que é mandatório na microfranquia é o
total envolvimento da pessoa. Ela vai passar a fazer o trabalho em modalidade
empreendedora. Muitas vezes nem tem funcionários ou tem poucos. A microfranquia
é um negócio enxuto”, explica.
Para o casal Alessandra
de Oliveira Janiques, 40 anos, e Renato Janiques, 61, o modelo pequeno e
acessível foi ideal para realizar o sonho dela de ter o próprio negócio.
Alessandra trabalhava como corretora de seguros e Renato estava se aposentando
do Senado Federal. Alessandra, então, foi em busca de algo que pudessem tocar
juntos em Brasília.
“A gente queria uma
renda extra e uma ocupação para ele e para mim. Eu procurei, pesquisei, olhei
vários ramos”, relata ela, que acabou se decidindo pela rede de lavanderias
Lava e Leva, microfranquia com investimento total a partir de R$ 35 mil.
Um fator determinante
para a escolha foi tratar-se de atividade no ramo de serviços. “Eu acho que, em
época de crise, o serviço é a única coisa que as pessoas não deixam de fazer.
Outro motivo foi a aprovação da PEC [Proposta de Emenda à Constituição] das
domésticas. Mandaram um monte de empregada doméstica embora e lavar a roupa é
complicado para a pessoa que trabalha. Pensei que, se a gente tivesse algo de
qualidade, com baixo custo, logo estaria todo mundo aqui. Hoje, com oito meses
de funcionamento, a gente tem mais de 100 clientes”, comemora Alessandra.
Para ela, ao ofertar
empregos, o negócio também ajudou pessoas atingidas pela crise. “Tenho seis
funcionários. Uma que estava sem emprego há nove meses, outra, há mais de dois
anos. Em um momento em que houve demissões por causa da crise, a gente
conseguiu contratar”, orgulha-se. Renato Janiques destaca o valor acessível da
microfranquia. “O preço em si, o valor em maquinário, em insumos, é muito
viável. Hoje estamos muito bem-sucedidos”, diz.
Alternativa
A biomédica Juliana Reis
Burjack, 35 anos, investiu em uma microfranquia por considerar o negócio uma
alternativa melhor que o mercado em sua área no setor privado. “O biomédico, se
não tiver muitas especializações, um doutorado, fica apenas em faculdades privadas
e isso é muito instável. Na área laboratorial é bom, mas você ganha pouco. Por
isso, optei pela franquia”, conta ela, que escolheu a rede de esmalterias
Turquesa. A empresa permite aos franqueados investimento a partir de R$ 80 mil,
incluindo taxa de franquia, reforma, treinamento e outros gastos.
“Uma das áreas de
habilitação da biomedicina é estética. É uma área com grande potencial. Na
crise, você pode até diminuir, mas não deixa de fazer [tratamentos de beleza]”,
opina Juliana, que estará à frente de uma unidade da Turquesa em Águas Claras,
cidade a cerca de 20 quilômetros da área central de Brasília. A nova empresa
começa a funcionar em abril. Juliana dedicará os dias a tocar o negócio e as
noites às aulas que dá como parte do mestrado em Microbiologia.
Empreendedorismo
O aumento do interesse
dos brasileiros por empreender não se restringe às franquias. A edição mais
recente da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), divulgada no Brasil
pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (Sebrae), mostra
que, em 2015, a taxa de empreendedorismo no país foi 39,3%, a maior registrada
nos últimos 14 anos. Segundo o gerente de Gestão Estratégica do Sebrae, Marcos
Bedê, a elevação da taxa tem sido um fenômeno constante.
“Se você pegar a série
histórica, [a taxa de empreendedorismo] cresce ano a ano. Mostra uma tendência
de aumento da propensão do brasileiro para se tornar empreendedor. Quando veio
a crise no ano passado isso continuou, com uma coloração mais forte em termos
de necessidade”, afirma. Segundo ele, o modelo franquia tem vantagens e
desvantagens. “A principal vantagem é que você recebe um negócio praticamente
pronto. O risco tende a ser um pouco menor”, comenta.
O especialista em
estratégia empresarial, marketing e recursos humanos Jorge Pinho, professor do
Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), considera
natural o interesse dos brasileiros por tocar o próprio negócio em tempos de
emprego em baixa. “A recessão que estamos vivendo leva à diminuição de oportunidades
e até do salário nas ofertas que por acaso apareçam. Isso faz com que as
pessoas tentem arriscar sua competência, sua sorte, no empreendedorismo”.
Na avaliação dele,
“tentar girar o capital de maneira sustentável” pode ser a “única alternativa”
no período de crise. Pinho aconselha, no entanto, cautela e pesquisa antes de
investir em um negócio, justamente em função da retração econômica. Para ele, é
preciso buscar as áreas menos afetadas. “Eu acredito que existam
possibilidades. Por exemplo, a questão da lavanderia. É uma aposta, pois a
empregada doméstica agora está custando em torno de 25% a mais do que você paga
a ela”, diz.