Ter um negócio não é uma tarefa fácil.
Porém, para alguns empreendedores, essa jornada exige
ainda mais disposição – isso porque eles decidiram conciliar a empresa própria
com um emprego em tempo integral, ao menos por um
tempo.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com os quatro
empreendedores da startup Stoodi, que prepara reforços escolares e materiais
preparatórios para o Enem, de forma online. Daniel Liebert, Gustavo Uehara,
Nilson Rejo Jr. e Vinicius Neves conciliaram o emprego fixo com o negócio
durante sua criação.
Uehara ficou um ano e meio nessa situação, por exemplo.
“Eu começava a trabalhar no design e no desenvolvimento do negócio umas 20h e o
horário em que eu acabava dependia do projeto. Às vezes eu acabava à
meia-noite, às vezes umas três ou quatro da manhã”, conta.
Liebert conta que o objetivo era testar a ideia antes de
se dedicar em tempo integral. “A gente resolveu começar nesse esquema paralelo
para reduzir o risco de carreira. Se desse errado, manteríamos os trabalhos. Se
desse certo, a gente avaliaria se valeria permanecer no emprego ou não.”
O empreendedor serial Alan Soares conta fundou um negócio
próprio pela vontade de mudar o mundo. Ele e mais um sócio administram a
Cinequanon Cultural, agência que trabalha com a criação de projetos para transformações
sociais, culturais e econômicas. Quando a empresa foi registrada, em 2012, ele
ainda era funcionário de uma empresa de educação para investidores. No fim,
acabou virando sócio também do negócio no qual era funcionário.
Já Carmen Lúcia conciliou emprego e negócio próprio para
complementar a renda, usando suas habilidades na cozinha. Enquanto trabalhava
em um supermercado, Carmen cuidava também da Salgados Carmen. “Eu entrava
meio-dia no mercado, mas acordava cinco da manhã para fazer salgado. Sempre
tive vontade de abrir um negócio, mas tinha receio. Registrada, você se
acomoda”, conta. Após cinco anos de conciliação, Carmen perdeu seu emprego em
março deste ano. Viu a oportunidade de tocar a Salgados Carmen de forma
integral e, hoje, faz três mil salgados por semana.
Veja, a seguir, as dicas desses empreendedores para quem
está conciliando negócio próprio e emprego fixo (ou pretende estar):
1.
Avalie se isso é para você
Quando o empreendedor concilia trabalho fixo e negócio
próprio, é comum que trabalhe mais do que seus conhecidos e, no curto prazo,
fique com menos dinheiro no bolso. Por isso, é preciso saber se você está
disposto a optar por uma dupla jornada, segundo todos os empreendimentos
entrevistados.
“Saiba que você estará deixando de ir
à academia ou ao bar para continuar trabalhando, agora em um negócio que é seu.
Seja honesto consigo mesmo na hora de decidir: saiba se você é forte para
aguentar as pancadas, que serão várias”, recomenda Soares, da Cinequanon.
“Esteja bem ciente de que trabalhar por conta própria não
é tão fácil quanto pensam. Eu trabalho muito mais agora, por exemplo. Mas,
mesmo a vida sendo mais corrida, estou mais feliz”, afirma Carmen.
Já Liebert conta um caso da própria Stoodi. “Nesse tempo de
jornada dupla, nós gravávamos as aulas em uma escola no final de semana, por
exemplo. Estávamos dispostos a pagar o preço de trabalhar em feriados e de
madrugada, para fazer isso virar. Aí vai muito de perfil.”
2.
Conheça qual o tipo do seu negócio
É possível ser funcionário e dono de uma empresa ao mesmo
tempo? Isso depende do objetivo do seu empreendimento, afirma Soares. “Tem
negócios que são feitos para serem escalados, enquanto outros são apenas para
obter uma renda extra. Se você pensa na segunda opção, você pode se organizar
para ajustar os horários.” Porém, se seu objetivo com a empresa for expandir as
operações, é quase certo que você deverá abandonar seu emprego no futuro.
Liebert, da Stoodi, recomenda também olhar para o timing
do mercado em que sua empresa irá atuar. Isso é fundamental para saber se você
pode tocar o negócio com mais calma ou não. “Nós avaliamos que nosso negócio
estava em um setor em que sair na frente não era tão importante assim.
Conseguimos essa conciliação de empreendimento e emprego por meses, trazendo os
sócios para trabalhar só com o Stoodi aos poucos. Porém, quando o empreendedor
vai atuar em negócios com timing, é pouco possível fazer o que fizemos”.
3.
Tenha organização
Organização é a palavra de ordem na hora de ter uma dupla
jornada, decreta Uehara. “Eu tentava me organizar ao máximo. Quando eu
trabalhava no Stoodi, esquecia o que fazia no trabalho, e vice-versa. Já era
estressante e cansativo por si só, porque é um período longo trabalhando. Se eu
pensasse no outro emprego, ainda, não daria certo.”
No caso, a antiga profissão de Uehara o ajudou. Ele
trabalhava como Scrum Master, um profissional que segue princípios de agilidade
para planejar e gerir projetos. “Estudar bastante essa área é importante, com
conceitos como Scrum e Lean Startup. Eu trouxe esses conselhos para organizar
minha própria rotina”, conta.
Deixar de ter essa organização pode até fazer com que
você perca sua clientela. “Se o freguês pede algo e você diz que não tem como
cumprir esse pedido, ou só pode fazer durante o final de semana e vai entregar
daqui a muito tempo, ele deixar de procurar na sua empresa”, alerta Carmen.
“Ficar conciliando emprego e negócio sem organização é não fazer nenhum
direito.”
4.
Não deixe de se dedicar ao emprego
A organização do tempo não é importante só para reduzir o
estresse do empreendedor, mas também para manter a produtividade durante a
dupla jornada. Fazer atividades da sua empresa durante as horas de trabalho
como funcionário prejudica a produtividade e é uma desonestidade com seu
empregador. “Ele vai acabar sabendo, uma hora ou outra, e uma das suas fontes
de renda será comprometida”, ressalta Soares. “Isso é especialmente ruim nesse
momento, quando o salário é destinado ao sustento do começo do negócio.”
5.
Busque algo pelo qual você seja apaixonado
Manter emprego e empreendimento próprio já é difícil. Mas
pior ainda é quando não há interesse real pelo negócio. “Não dá certo investir
no negócio só porque você conhece alguém que se deu bem. Trabalhar por conta é
bom só se você gosta do que faz, porque pede uma disponibilidade total”, alerta
Carmen.
Dinheiro/msn
